Japão

Restauração Meiji: um resumo da história da era que mudou o Japão para sempre

Conheça um pouco mais sobre o ado sombrio do Japão e seus feitos no restante da Ásia

Escrito en História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Restauração Meiji: um resumo da história da era que mudou o Japão para sempre
Fotografia do Imperador Meiji em 1872. Imperador Meiji, responsável pela restauração do poder imperial e centralizado no japão. Wikipédia

É difícil, no Ocidente, que muitas pessoas conheçam a história dos países do Ásia Oriental. No Brasil, especialmente, pouco ou quase nada se estuda sobre a história da China ou da península Coreana. No máximo, aprendemos algo sobre o Japão Imperial e sua participação na Segunda Guerra Mundial.

A Restauração Meiji costuma ser abordada nas aulas de História no Brasil principalmente para contextualizar o papel do Japão no conflito e, de forma complementar, explicar parte do processo de imigração japonesa para o nosso país. No entanto, a importância desse período vai muito além.

Hoje, entenderemos um pouco mais sobre a Restauração Meiji — e como ela influenciou profundamente a mentalidade japonesa, contribuindo para os inúmeros massacres cometidos pelo Exército Imperial em outras partes da Ásia

Imperador Meiji
(foto: Wikipédia)

A Restauração Meiji foi um processo histórico que ocorreu no Japão entre 1868 e o início do século XX, marcando o fim do xogunato Tokugawa (governo militar feudal) e a retomada do poder centralizado pelo imperador. Mais do que uma simples troca de governo, foi uma transformação radical na estrutura política, econômica, social e cultural do país — com profundas consequências para o Japão e o resto da Ásia.

Contexto: o Japão isolado e o choque com o Ocidente

Tokugawa Iyeasu o primeiro Xogum do Japão
(foto: Wikipédia)

Durante mais de dois séculos (de 1603 a 1868), o Japão viveu sob o xogunato Tokugawa, um regime feudal que manteve o país intencionalmente isolado do resto do mundo — uma política conhecida como sakoku. A entrada de estrangeiros era limitada, e o comércio exterior era rigidamente controlado. No entanto, em 1853, a chegada dos navios de guerra do Comodoro Matthew Perry, dos Estados Unidos, forçou o Japão a abrir seus portos ao comércio internacional.

Esse evento deixou claro que o Japão, tecnologicamente atrasado em relação às potências ocidentais, não conseguiria manter sua soberania sem modernizar-se. A humilhação de ter que tratados desiguais com potências ocidentais provocou uma crise interna e alimentou o desejo de recuperar o poder imperial e transformar o país.

A Revolução Meiji: modernização, militarização e nacionalismo

Em 1868, após uma breve guerra civil (a Guerra Boshin), os apoiadores do imperador depam o xogum e declararam a restauração do governo imperial, sob o imperador Meiji. Começava aí uma era de reformas radicais:

  • Abolição do sistema feudal: Os senhores feudais (daimyo) perderam seu poder e as terras foram centralizadas pelo Estado.
     
  • Criação de um exército nacional: Inspirado nos modelos europeus, especialmente prussiano.
     
  • Industrialização acelerada: O Japão construiu ferrovias, fábricas, sistemas bancários e adotou tecnologias modernas.
     
  • Educação e burocracia centralizada: Um sistema educacional universal foi implementado, com forte ênfase no nacionalismo e obediência ao Estado.
     
  • Constituição Meiji (1889): Criou um sistema político moderno com Dieta (parlamento), mas com forte poder concentrado no imperador.
     

O lema da era era: “País rico, exército forte” — e a ideia era clara: modernizar para resistir ao colonialismo ocidental e, eventualmente, tornar-se uma potência imperialista também.

Influência na mentalidade expansionista e militarista

A Restauração Meiji não só modernizou o Japão, mas também plantou as sementes do imperialismo japonês que ganharia força nas décadas seguintes. O nacionalismo promovido nas escolas e no exército cultivou uma visão de superioridade cultural e racial do Japão sobre seus vizinhos asiáticos, especialmente chineses e coreanos.

Esse sentimento foi um dos fatores que justificaram, na mentalidade japonesa da época, os massacres cometidos durante a expansão imperial no século XX — como o infame Massacre de Nanquim (1937), onde centenas de milhares de civis chineses foram mortos por tropas japonesas, além de sistemáticos abusos cometidos na Coreia, sudeste asiático e nas colônias ocupadas.

A Restauração Meiji foi um ponto de virada para o Japão — uma transição do feudalismo para o capitalismo industrial, do isolamento para a ambição imperialista. Sua importância é enorme, tanto como exemplo de modernização rápida e eficaz, quanto como origem de uma ideologia nacionalista e militarista que teria consequências trágicas para o continente asiático.

Apesar de seu papel ser, muitas vezes, reduzido nas aulas de história no Brasil, entender esse processo ajuda a compreender não apenas o Japão moderno, mas também as tensões geopolíticas e memórias históricas que ainda hoje influenciam as relações entre o Japão e seus vizinhos. E de quebra, lembrar que o Japão é muito mais que animes e personagens "kawaii" - é um país que nunca se desculpou por seus crimes de guerra, muito pelo contrário, orgulham-se de seu ado imperialista.

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