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BEM-AMADA

Aimée de Heeren: Glamour, segredos e política

A socialite brasileira que encantou o mundo, foi ícone de moda, manteve em segredo seu caso com Getúlio Vargas e atuou como espiã durante a Segunda Guerra Mundial

Créditos: Fotomontagem (FGV)
Escrito en MODA E POLÍTICA el

Aimée de Heeren (1903-2006) é uma das personalidades mais fascinantes da história brasileira, uma figura que, embora tenha vivido uma vida repleta de feitos extraordinários, acabou ofuscada pelo grande público. 

Socialite, ícone de moda, amante do presidente Getúlio Vargas e agente secreta durante a Segunda Guerra Mundial, sua trajetória é marcada por um envolvimento único nas esferas mais exclusivas da sociedade internacional, ao mesmo tempo em que teve um papel estratégico na política brasileira e na espionagem do governo de Vargas.

Ícone de moda

Além de ser uma figura influente na política e nas altas esferas sociais, Aimée se consolidou como um ícone de estilo, sendo reconhecida como uma das mulheres mais bem vestidas de sua época. Sua relação com a moda transcendia a simples escolha de roupas, com sua influência se estendendo aos maiores nomes da alta-costura, como Coco Chanel e Christian Dior.

Durante sua vida, Aimée foi aclamada por seu gosto impecável, sua elegância natural e a maneira como se vestia com classe e sofisticação. Sua beleza, combinada com um estilo refinado, a transformou em uma referência para mulheres da elite mundial. Seu talento para se vestir de maneira sóbria, mas deslumbrante, consolidou sua imagem como um ícone de estilo, tanto no Brasil quanto no exterior.

Relação com Coco Chanel e Christian Dior

Wikipedia - Aimée veste um dos primeiros vestidos de Dior

Aimée mantinha uma amizade próxima com Coco Chanel, uma das estilistas mais influentes do século XX. Ela foi uma das primeiras a vestir as criações da sa, ajudando a consolidar sua imagem como uma das mulheres mais elegantes do mundo. Chanel, por sua vez, irava profundamente a postura e a personalidade de Aimée, a qual se tornou uma verdadeira embaixadora do estilo da maison.

Sua relação com a moda não se restringiu a Chanel. Aimée também estabeleceu laços com Christian Dior, sendo vista frequentemente usando suas criações. Ela usou um dos primeiros vestidos criados por Dior, antes de ele lançar sua própria marca. O vestido, que fazia parte da coleção de primavera de 1939 de Robert Piguet, foi usado por ela no prestigiado Baile do Circo, evento organizado por Lady Mendl (Elsie de Wolfe). Na época, Dior ainda trabalhava para Piguet, e a peça não estava sob a marca Dior, mas já refletia a criativa que se tornaria um ícone mundial.

O estilo de Dior, caracterizado por silhuetas femininas e estruturadas, complementava perfeitamente a graça natural de Aimée, que exibia essas peças com uma sofisticação única, mas sempre fiel à sua personalidade.

Reconhecimento Mundial

Em 1941, a revista Time elegeu Aimée como uma das mulheres mais bem vestidas do mundo, reforçando ainda mais sua posição como uma das figuras mais sofisticadas da moda global. Ao longo de sua vida, ela se tornou sinônimo de elegância, não apenas pelas roupas que usava, mas também pela maneira como transformou a moda em uma expressão de sua identidade e status.

Além de seu impacto no universo da moda, sua amizade com Coco Chanel e sua relação com outros grandes nomes da alta costura posicionaram Aimée como uma figura fundamental no cenário da moda internacional. Seu estilo atemporal, sua habilidade de se expressar por meio da moda e sua postura refinada continuam a inspirar mulheres até os dias de hoje, tornando-a uma referência de classe, sofisticação e elegância.

O Legado no Fashion Institute of Technology

FIT - O estilo de Aimée de Heeren em exposição no FIT de Nova York.

A coleção de vestidos de Aimée de Heeren no Fashion Institute of Technology (FIT) de Nova York é um testemunho da sofisticação e do estilo refinado que marcaram sua presença na alta sociedade internacional. Essas peças, adquiridas ao longo de quatro décadas, foram doadas ao museu na década de 1970 e oferecem uma visão única da evolução da moda do século XX através dos olhos de uma das mais elegantes socialites da época.

Entre os destaques da coleção estão vestidos de renomados estilistas como Christian Dior, Balenciaga, Chanel, Madeleine Vionnet, Elsa Schiaparelli, Jacques Fath, Robert Piguet e Yves Saint Laurent. Essas peças refletem a diversidade de estilos que Aimée apreciava, desde a elegância clássica até as inovações vanguardistas da alta-costura. 

A coleção inclui órios de destaque, como chapéus de Caroline Reboux, sapatos feitos sob medida e joias de Suzanne Belperron, evidenciando o gosto impecável de Aimée por detalhes que complementavam sua aparência com perfeição. Sua habilidade em combinar peças de diferentes estilistas e épocas demonstra não apenas sua elegância, mas também sua compreensão profunda da moda como forma de expressão pessoal.

O FIT Museum, em Nova York, preserva e exibe essas peças, permitindo que visitantes e estudiosos apreciem a riqueza e a diversidade do guarda-roupa de Aimée de Heeren, que continua a inspirar iradores da moda até hoje.

Filha da classe média

Nascida Aimée Sotto-Maior em Castro, no Paraná, município localizado a 130 quilômetros de Curitiba, era filha de Maria Sotto-Maior e José Sotto-Maior, ambos de origem portuguesa. Cresceu em uma família de classe média alta, com forte ênfase na educação e no conhecimento.

Embora não fosse parte da elite econômica brasileira, seus pais ofereceram uma educação de qualidade que possibilitou à jovem ingressar nos círculos sociais do Rio de Janeiro e, mais tarde, se destacar na alta sociedade internacional. A ascensão de Aimée foi facilitada pelos casamentos com figuras influentes, consolidando seu nome entre as elites brasileira e mundial, mesmo sem uma origem aristocrática ou de grande fortuna.

Amante de Getúlio Vargas

A história de Aimée ganhou notoriedade principalmente por seu envolvimento com o presidente Getúlio Vargas, um romance mantido em segredo por muitos anos e revelado somente em 2013 pelo jornalista Lira Neto, em sua biografia Getúlio (1930–1945): Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo.

Reprodução Amazon

No livro, Lira Neto detalha o relacionamento extraconjugal entre Vargas e Aimée, identificada como a "Bem-Amada" mencionada nos diários íntimos do presidente. Embora já fosse sugerido pelos diários, o trabalho de Lira Neto trouxe à tona o caso de forma mais abrangente, destacando o impacto da paixão avassaladora de Vargas.

O romance entre o presidente e a socialite começou em 1931, quando Aimée, com apenas 24 anos e casada com Luís Simões Lopes, assessor de Vargas, se envolveu com o presidente, que tinha o dobro de sua idade. Embora Vargas fosse casado com Darcy Vargas, o relacionamento foi além de uma simples aventura. O romance se intensificou a ponto de Vargas se tornar obcecado por Aimée, mas também causou tensões em sua vida pessoal e política, culminando em sua interrupção.

Vida fora do Brasil

Após se separar de Luís Simões Lopes, Aimée ou a viver em Paris, onde entrou em contato com a alta sociedade europeia. Ela consolidou sua imagem como socialite sofisticada e ícone de moda, tornando-se uma figura central na cena internacional dos anos 1930 e 1940.

Durante a década de 1940, Aimée se casou com Rodman de Heeren, herdeiro da rede de lojas de departamento Wanamaker, e ou a dividir seu tempo entre a França e os Estados Unidos, além de viajar frequentemente. O casamento com Rodman deu-lhe o sobrenome "de Heeren", aproximando-a das famílias mais influentes do mundo.

Apesar de sua vida social agitada, Aimée manteve um certo mistério em torno de sua vida pessoal. Nunca revelou sua verdadeira idade e evitava dar entrevistas, preferindo se manter discreta sobre sua intimidade.

Nos últimos anos de sua vida, afastou-se das grandes festas e viagens internacionais, fixando-se em Biarritz, França, onde morreu em 2006, aos 103 anos. Apesar de ser uma figura conhecida na Europa e nos Estados Unidos, sua história permaneceu em grande parte desconhecida no Brasil.

Agente secreta durante a Segunda Guerra Mundial

Aimée desempenhou um papel discreto, mas fundamental, como agente secreta para o governo Vargas durante a Segunda Guerra Mundial. Embora seu nome seja mais conhecido por sua ligação com a alta sociedade e com a moda, o papel dela na espionagem foi uma faceta importante e muitas vezes negligenciada de sua história.

Durante a guerra, o Brasil, sob o governo de Vargas, estava cada vez mais envolvido com os Aliados, e a posição geopolítica estratégica do país o tornava um ponto crucial para a coleta de informações e a disseminação de dados sensíveis. 

Aimée, com sua vasta rede de contatos nas altas esferas internacionais, foi recrutada para ajudar em missões de espionagem. Sua habilidade em se infiltrar nas rodas diplomáticas e sociais, como socialite e mulher de charme, foi um trunfo para o governo brasileiro.

Como uma figura respeitada na sociedade, especialmente entre diplomatas e membros da elite europeia e estadunidense, Aimée teve o a ambientes exclusivos onde informações vitais eram trocadas. Ela aproveitou essas ocasiões para coletar dados sobre os movimentos das potências do Eixo e das forças Aliadas, transmitindo informações cruciais para o governo de Vargas.

A relação de Aimée com figuras influentes no cenário internacional, como presidentes, embaixadores e empresários, a tornou uma informante valiosa. Durante seus encontros sociais e políticos, ela conseguia, discretamente, coletar informações sem levantar suspeitas. Sua elegância e sofisticação, combinadas com sua astúcia, a tornaram uma excelente fonte de inteligência.

Apesar de sua colaboração ser fundamental para a guerra, o envolvimento de Aimée com a espionagem não era amplamente conhecido, e a natureza de suas atividades só foi revelada muito tempo depois, quando a história foi revelada de forma mais detalhada na biografia escrita por Lira Neto sobre Vargas.

A atuação de Aimée como agente secreta é uma parte fundamental de sua vida que mostra como sua figura transcendia a socialite superficial. Ela foi uma mulher com uma rede de contatos poderosos e uma capacidade estratégica de influenciar e recolher informações vitais em um momento decisivo para o Brasil e o mundo. 

Ela, assim, fez contribuições discretas, porém essenciais, para o esforço de guerra do Brasil, trabalhando como uma ponte entre as altas esferas políticas e a espionagem de guerra.

Biografia Bem-Amada

Reprodução Amazon

A biografia Bem-Amada: Aimée de Heeren, a Última Dama do Brasil, escrita pelo jornalista Delmo Moreira e lançada em outubro de 2024, oferece uma análise detalhada da vida de Aimée , desde sua origem no Brasil até seu status como uma das mulheres mais sofisticadas e influentes do século 20.

O título da biografia faz referência ao apelido dado a Aimée por Getúlio Vargas, "Bem-Amada", em seus diários pessoais, nos quais o presidente descreveu seu relacionamento com a socialite. A obra explora a complexidade do romance e como ele impactou tanto a vida de Vargas quanto a de Aimée.

O livro também aborda a formação de Aimée, sua ascensão social no Rio de Janeiro, sua vida em Paris e nos Estados Unidos, e sua posição como uma das mulheres mais bem vestidas de sua época.

A biografia de Moreira revela ainda a personalidade multifacetada de Aimée, que, apesar de ser uma mulher pública, sempre manteve sua vida pessoal em segredo, cultivando um ar de mistério que cativou aqueles ao seu redor. O livro serve como uma janela para o mundo da alta sociedade do século XX, oferecendo um panorama das transformações sociais, políticas e culturais da época.

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