Análise

A histeria das bets, dos bancos, do agro e das grandes corporações - Por Chico Alencar

Este cenário acontece justamente no país dos abismos sociais

Escrito en Opinião el
Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ. É graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutorando pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A histeria das bets, dos bancos, do agro e das grandes corporações - Por Chico Alencar
O ministro Fernando Haddad e o presidente da Câmara Hugo Motta. Lula Marques/Agência Brasil

Em poucos lugares no mundo há tanta dificuldade em se avançar na Justiça Tributária como no Brasil. Isso explica, em grande medida, a posição do país como o 6º mais desigual do mundo, de acordo com a ONU.

O que a mídia tem chamado de “escalada da tensão entre Executivo e Legislativo” ocorre depois de o presidente da Câmara afirmar, em evento com empresários, que as medidas tributárias apresentadas pelo governo devem ter “reação muito ruim” no Congresso - isso tudo após longo e amistoso diálogo com o ministro Haddad, da Fazenda.

O mantra, com apoio quase unânime da mídia grande, é o de que “o governo precisa cortar os gastos sociais”. Reduzir a desigualdade tributária fica para depois.

Essa conclusão foi verbalizada, inclusive, pelo notório Wesley “JBS” Batista, dono de empresas que receberam mais de R$ 600 milhões em isenções fiscais só no primeiro semestre de 2024, segundo dados divulgados pela Receita Federal.

Partidos do Centrão já declararam que serão contra qualquer medida de arrecadação que não venha acompanhada de “iniciativas para reduzir gastos” (mas votaram a favor de aumentar o número de deputados e apoiam todo tipo de facilitário para o Legislativo).

Na sociedade de classes, esses parlamentares defendem interesses econômicos e políticos do agro, do mercado financeiro, das bets. Do topo da pirâmide.

O presidente da Câmara afirma “não servir a nenhum projeto político”, mas está alinhado com o grande capital, que não ite reformas distributivas mínimas. Querem minar a capacidade do Executivo e, com o crescimento das emendas parlamentares e das renúncias fiscais, inibir a capacidade do governo de implementar políticas públicas.

Na segunda-feira vão tentar, na Câmara, começar a derrubar qualquer aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), por mais justo que seja.

Fique de olho, veja quem é quem!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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