O deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ) destinou, por meio de sua cota parlamentar, aproximadamente R$ 77 mil a uma empresa recém-criada, registrada em um coworking de Brasília, para serviços de publicidade. O detalhe que chama atenção é o nome por trás do empreendimento: Alexandre Bueno Camargo, um ex-secretário-adjunto da Prefeitura de Bagé (RS), investigado por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e ocultação de bens. Ele também já foi preso por tráfico de drogas.
A empresa em questão, a AB Comunicação Digital LTDA, foi formalizada há pouco mais de um ano e começou a prestar serviços ao gabinete de Jordy apenas cinco meses após sua abertura. Em sete meses de contrato, os rees feitos pelo deputado somaram quase R$ 80 mil.
Fórum teve o às notas fiscais
A reportagem da Fórum teve o à maior parte das notas fiscais emitidas pela AB Comunicação Digital LTDA por serviços prestados ao gabinete do deputado federal bolsonarista Carlos Jordy. A primeira emissão é de 18 de novembro de 2024 e o valor do documento é de R$ 13 mil. Em 16 de dezembro do mesmo ano, uma outra nota no mesmo valor também foi emitida pela firma.
Em janeiro deste ano, no dia 15, há um pagamento feito pelo gabinete do parlamentar no valor de R$ 8 mil, seguido por um idêntico em 18 de fevereiro. Em 19 de março, 22 de abril e 20 de maio outras três notas, no valor de R$10 mil cada, foram emitidas pela empresa de Alexandre Bueno Camargo. O valor total desses serviços à que a Fórum teve o, num período de seis meses, é de exatos R$ 72 mil.
Empresário tem histórico de escândalos e prisão por tráfico
Atuando politicamente no Rio Grande do Sul, Alexandre Bueno Camargo já havia ganhado notoriedade de forma negativa antes de se tornar fornecedor de serviços de publicidade do gabinete do parlamentar fluminense. Em 2018, enquanto ocupava o cargo de secretário-adjunto de Planejamento no município de Bagé, Camargo foi preso em flagrante durante uma operação do Ministério Público.
Naquele período, a investigação apurava um esquema de fraudes em contratos públicos envolvendo a coleta de lixo da cidade. Em sua residência, foram encontrados entorpecentes e R$ 15 mil em espécie sem origem comprovada. Segundo os investigadores, havia indícios de que quantidades maiores de droga haviam circulado pelo local, daí a razão para a acusação de tráfico. A operação foi reportada à época pelo portal Gaúcha Zero Hora.
Além de Camargo, a operação do MP levou ao afastamento de outros secretários municipais e suspendeu contratos suspeitos. As apurações também envolviam dispensas ilegais de licitação, fracionamento de contratos e pagamentos duplicados sem empenho prévio.
Contratação desperta suspeitas sobre uso da cota parlamentar
A relação entre o deputado e a empresa de Camargo acende alertas sobre o uso da verba pública destinada ao exercício parlamentar. A contratação de uma firma sem histórico de atuação consolidada, vinculada a um empresário com agens criminais e envolvimento em esquemas de corrupção, levanta questionamentos sobre os critérios adotados pelo bolsonarista, que profere constantemente discursos moralistas e “anticorrupção”, na destinação de recursos provenientes do erário.
Registrada em um endereço fiscal dentro de um espaço de coworking (local com baias onde pessoas pagam cotas para de lá trabalharem), na capital federal, a AB Comunicação Digital não apresenta estrutura robusta nem histórico de clientes, o que acentua ainda mais as dúvidas sobre sua capacidade de entregar os serviços contratados.
A ausência de informações detalhadas sobre os serviços efetivamente prestados pela empresa é um outro problema que torna tudo ainda mais turvo quando observada a vida pregressa de seu proprietário, configurando-se um caso clássico de falta de transparência no uso da cota parlamentar, um mecanismo de financiamento que deveria ser destinado exclusivamente a atividades relacionadas ao mandato dos deputados, senadores e vereadores.
O que diz o deputado Carlos Jordy
A Fórum entrou em contato com o gabinete do deputado federal Carlos Jordy solicitando uma manifestação do parlamentar em relação ao conteúdo apresentado na reportagem. Até o momento, a redação não recebeu nenhuma resposta. O espaço segue aberto para o posicionamento do político em questão.
Já em relação a Alexandre Bueno Camargo, ex-secretário-adjunto de Planejamento de Bagé e proprietário da AB Comunicação Digital LTDA, a Fórum não conseguiu obter nenhum de seus contatos. O espaço segue à disposição para manifestações da mesma forma.