FOLHA SANTISTA

Um professor, uma família e o peso sujo da perseguição institucional – Por Danilo Tavares

Após liderar greve dos professores em São Vicente, Antônio Bravini se tornou alvo de uma ofensiva política silenciosa e covarde

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Um professor, uma família e o peso sujo da perseguição institucional – Por Danilo Tavares
Imagem Ilustrativa. Divulgação/Prefeitura de SV

Na sala de aula, Antônio Bravini ensina com excelência. Nas ruas, organiza com inteligência. Nos bastidores da cidade, incomoda o sistema de poder local. E é exatamente por isso que hoje tentam intimidá-lo, com sua casa invadida institucionalmente, sua família ameaçada e sua honra sendo atacada por dentro das estruturas públicas de São Vicente (SP).

Antônio é professor da rede municipal, figura conhecida e querida entre colegas, alunos e moradores de seu bairro, e é um dos principais articuladores da greve dos professores realizada em abril de 2025. A paralisação denunciava a defasagem salarial, a má gestão da educação municipal, os problemas estruturais das escolas e as evidências de uso irregular de recursos milionários em obras públicas escolares. O movimento teve adesão forte da categoria e apoio da comunidade. Mas incomodou.

E quando um educador incomoda o poder, o que era para ser democracia vira perseguição.

A máquina do assédio

Desde o término da greve, Antônio ou a enfrentar uma escalada de ações intimidatórias. Embora o assédio institucional não seja novo — ele já acumula seis processos istrativos fruto de sindicâncias sem provas, iniciadas ao longo dos últimos anos —, foi em maio de 2025 que o cerco apertou de forma brutal.

Ele foi chamado para uma nova oitiva de mais um processo istrativo sem cabimento, e também acusado com uma outra denúncia anônima caluniosa, sem qualquer comprovação legalmente aceitável com base factual, que foram levadas a sério pela Secretaria de Educação (Seduc) e, pior, acolhida com celeridade suspeita pela Secretaria de Assuntos Jurídicos (Sejur), chefiada pelo procurador Oberdan Moreira Elias. Foi aberta investigação, convocadas diretoras para oitivas, e pode vir abrir um precedente de processar um professor por denúncia anônima e de viés político.

“Não é só a minha liberdade que está em risco. É o direito de qualquer servidor lutar sem medo de ser punido por isso”, alerta o professor Antônio Bravini.

Enquanto isso, nas redes sociais, o prefeito Kayo Amado e seu secretário executivo Mario Tito usaram suas plataformas pessoais para lançar ataques diretos a Bravini, chamando-o de “mentiroso” e caluniando-o do crime de Fake News, sem direito de resposta, sem apuração, sem qualquer processo legítimo que justificasse a exposição de um servidor público. Um professor que é referência para seus alunos.

“Essa gestão vai ter que explicar à justiça por que está usando o poder público para perseguir quem denuncia seus erros”, afirma Bravini.

Mas não parou por aí.

O terror entra em casa

No dia 11 de junho de 2025, a situação atingiu um novo patamar de gravidade. Uma carta do Conselho Tutelar foi entregue na residência da família Bravini, endereçada à esposa de Antônio, exigindo que uma de suas filhas fosse levada à sede do conselho para “esclarecimentos”. O documento não informava qual criança, qual o motivo da convocação, nem trazia protocolo, válida ou respaldo legal.

Apenas uma ordem em letras garrafais: COMPARECER COM A CRIANÇA.

Esse ato, vindo de um órgão que deveria proteger a infância e não coagi-la, foi feito por Paulo Bertone, conselheiro tutelar ligado à direita conservadora da cidade. A família não foi ouvida. Não foi respeitada. Foi violada, institucionalmente, dentro da própria casa.

Somado a isso, uma carta anônima com conteúdo calunioso foi deixada na porta da residência, tentando gerar conflito conjugal e desestabilização emocional.

“O que estão fazendo com minha família não é política. É crueldade institucional — covardia que nem os bandidos costumam fazer. Quando a perseguição chega à porta da minha casa e envolve minha filha, o que está em jogo não é mais política — é humanidade”, apela Bravini. 

Um lar foi violado. Uma família está sendo aterrorizada. É inissível e urgente!

imagem de rede social de Antônio Bravini

Silenciar uma liderança, destruir um exemplo

A perseguição contra Antônio Bravini não é apenas um caso isolado. Ela é sintoma de uma estrutura podre que opera nas entranhas da istração pública, onde a crítica vira crime e a resistência vira alvo. A Seduc de São Vicente está mergulhada em imundície política, aparentemente conivente com o uso da máquina para fins escusos. O Sintramem, que deveria defender os trabalhadores da educação, se silencia, acovardado ou cooptado politicamente.

É por isso que este caso precisa ganhar visibilidade regional e nacional.

O que está em jogo

Não é apenas a vida de um professor e sua família. É o direito de toda uma categoria de se organizar. É o direito de qualquer família viver sem medo. É o direito de uma criança não ser usada como ferramenta de vingança política. É essa a sua “cidade da infância”, prefeito Kayo Amado?

“Podem tentar me amedrontar, mas não vou recuar. Minha luta é justa, minha voz é coletiva. Minhas filhas vão crescer sabendo que o pai delas não se escondeu diante da injustiça dos covardes”, afirma Bravini.

É o retrato de um poder público que, ao invés de servir ao povo, se volta contra quem ousa questioná-lo. É reflexo de políticos e gestores despreparados emocionalmente, com formação política baseada no individualismo e na esperteza, com sérios sintomas de desvios éticos e comportamentais e baixa eficiência na gestão pública (cidade em crise e caos).

Solidariedade urgente

Diante desse cenário, entidades sindicais, movimentos sociais, representantes parlamentares e órgãos de controle precisam agir. Não basta indignar-se em privado.

É hora de se posicionar publicamente, juridicamente e politicamente.

-Que o Ministério Público investigue;

-Que o CMDCA e o Condeca responsabilizem o Conselho Tutelar por sua conduta;

-Que os sindicatos que se calam repensem de que lado estão;

-Que a sociedade diga: com professor não se brinca. Com criança não se ameaça.

O que está acontecendo com o professor Antônio Bravini é grave, real e perigoso. E a covardia do silêncio é ainda mais.

Porque hoje é ele. Amanhã, pode ser qualquer um de nós.

*Danilo Tavares (@danilotavaressol) é produtor cultural, funcionário público municipal e secretário de comunicação do PSOL de São Vicente, além de membro do Conselho de Economia Solidária de São Vicente e do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista e diretor da Casa Crescer e Brilhar.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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