Senado em 2026: uma eleição que pode mudar tudo
A renovação de dois terços das cadeiras pode redesenhar forças políticas no país e até mesmo inviabilizar futuros governos progressistas
O ex-ministro José Dirceu divulgou nesta segunda-feira (26) uma carta aberta a militantes do PT convocando a legenda e as forças progressistas para o que considera uma “tarefa histórica”: concluir a revolução social brasileira inacabada. Ele também defende que o partido e seus aliados devem buscar alianças mais amplas do que a centro-esquerda, mas sem abrir mão de mobilizar bases populares, sociais e sindicais.
Disse ainda que é necessário enfrentar o rentismo e a “apropriação da renda nacional pelo capital financeiro e agrário”. Segundo o ex-ministro, isso exige uma reforma tributária e financeira radical, capaz de romper o "circuito entre o Banco Central e a Faria Lima", que concentra renda e sufoca a economia.
Mas, além dessas questões, Dirceu chama atenção para a disputa pelo Senado em 2026, considerada por ele crucial para os embates políticos que vêm pela frente. Ele destaca que o bolsonarismo já articula, nos bastidores, a conquista de uma maioria no Senado.
Por que o Senado importa tanto?
Os extremistas buscam a maioria para pautar o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas essa não é a única prerrogativa exclusiva da Casa. A própria escolha de magistrados para a Suprema Corte precisa da aprovação dos senadores, assim como indicados para agências regulatórias, presidente do Banco Central, magistrados de cortes superiores e procurador-geral da República.
Além disso, há um poder de agenda política próprio do Parlamento e o mandato de oito anos permite ainda que os senadores se candidatem a cargos em eleições intermediárias sem precisar abrir mão de seu mandato.
As eleições para o Senado costumam receber menos atenção dos eleitores, especialmente pelo fato de coincidirem com a disputa para presidente e governadores. Costuma ter menos visibilidade até do que a corrida pela Câmara dos Deputados, que conta com inúmeros rostos conhecidos e figuras pitorescas como candidatas que acabam atraindo holofotes.
Quando se trata do pleito em que duas vagas estão em disputa, o cenário para o eleitor fica ainda mais confuso. Afinal, trata-se da única eleição em que ele deve dar dois votos, sendo que todas as suas outras escolhas se concentram em apenas um nome.
É também um pleito com características de eleição majoritária, mas sem segundo turno. E tem se tornado uma tendência o eleitor decidir seu voto cada vez mais perto do dia da eleição, no Senado existe um agravante: em geral, o segundo voto para senador é decidido ainda mais tardiamente, o que motiva mudanças bruscas nos resultados quando comparados às pesquisas eleitorais.
A utilização da segunda escolha como uma espécie de voto útil também complica o jogo. Muitas vezes o eleitor acaba adotando uma segunda escolha que prejudica a principal. Nas eleições de 1994, por exemplo, eleitores de Luiza Erundina votaram como segunda opção em José Serra, à época menos identificado com a direita, para impedir a ida de Romeu Tuma para o Senado. O tucano acabou tendo um impulso final para terminar em primeiro lugar e a ex-prefeita de São Paulo terminou em terceiro.
A estratégia da extrema direita
Se normalmente já se trata de uma eleição que exige um cuidado muito maior para definir rumos de campanha e escolha de nomes, já que mais variáveis devem ser consideradas em relação a pleitos para outros cargos, o bolsonarismo tem uma estratégia traçada para chegar à almejada maioria.
Levando-se em conta as eleições de 2022, essa é uma hipótese que não deve ser descartada. Segundo esta matéria do The Intercept Brasil, das 27 cadeiras em jogo há três anos, os extremistas ficaram com 14, ou seja, a maioria. Na conta, foram considerados os parlamentares eleitos pelo PL, PP, Republicanos e Novo.
Em 2026, estarão em disputa 54 cadeiras, e o bolsonarismo precisaria conquistar 16 vagas que ainda não tem, além de manter as 11 que já ocupa, para chegar à maioria absoluta de 41 senadores.
O presidente do PP e ex-ministro de Bolsonaro, Ciro Nogueira, revelou ao Valor Econômico em 2024 que a eleição do Senado é “a coisa mais importante da vida do Bolsonaro”. "Onde ele puder colocar um bolsonarista ele vai botar. Onde ele não puder botar um bolsonarista que ganhe, que tenha risco de perder, ele vai colocar um aliado”, pontuou.
Citou como exemplo, à época, Santa Catarina, onde os bolsonaristas podem apoiar Espiridião Amin (PP). “O Amin é bolsonarista? Não é. Mas está eleito, com o apoio do Bolsonaro. Então, ele [Bolsonaro] vai eleger um bolsonarista e o Amin. Vamos avaliar isso estado por estado”, explicou Nogueira. “A prioridade deles é o PL, não vou negar, mas ele [Bolsonaro] tem que ter maioria no Senado e ele sabe que o PL não terá 41 senadores, então tem que se juntar com a gente."
O mapa bolsonarista
O objetivo, como destaca o Intercept, é avançar no Norte, em especial em estados como Acre, Rondônia e Roraima, onde Bolsonaro teve maioria esmagadora em 2022. A ideia é obter sete das 14 vagas. No Nordeste, o objetivo é ir de três para cinco.
Mas o mais importante na matemática da extrema direita é consolidar o favoritismo no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde, acreditam os bolsonaristas, podem ganhar até 17 novas cadeiras.
Para a esquerda e centro-esquerda, o cenário é desafiador. O PT, por exemplo, tem nove senadores e seis vão tentar a reeleição. Um deles, Paulo Paim (RS), já anunciou que não disputará novamente, abrindo caminho para a direita no estado.
Além disso, a taxa de reeleição para o Senado caiu para menos de 40% desde 2018, um sinal de que surpresas e mudanças de última hora são muito comuns nessa disputa.
A eleição para o Senado em 2026, portanto, será um divisor de águas. Mais do que escolher nomes, o eleitorado vai decidir qual caminho o país seguirá: consolidar um projeto autoritário e ultraconservador ou defender a democracia e um Estado social mais justo. Mas, para isso, o eleitor precisa ter ciência da importância dessa disputa. Uma tarefa que tem que ser empreendida pelo campo progressista desde já.