FHC e o atentado de Oklahoma: diplomacia em meio à tragédia
Fernando Henrique chegou aos Estados Unidos para visita oficial a convite de Bill Clinton um dia após o maior ataque terrorista doméstico da história do país até então; confira dicas de documentários
A visita oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso aos Estados Unidos, em abril de 1995, coincidiu com um dos momentos mais trágicos da história recente daquele país. Ele desembarcou em Washington em 20 de abril, menos de 24 horas após a explosão de uma bomba que matou 168 pessoas em Oklahoma City, no que foi, até então, o mais mortal ato de terrorismo doméstico nos EUA.
Apesar da comoção nacional, a visita foi mantida. Foi o primeiro compromisso oficial de FHC como chefe de Estado brasileiro em solo estadunidense, feito a convite do presidente Bill Clinton.
Em meio à dor e ao luto que abalavam os Estados Unidos, Clinton e FHC reafirmaram o compromisso mútuo com a democracia, o livre comércio e a integração regional nas Américas — temas centrais da Cúpula de Miami, realizada meses antes, que marcou o lançamento da proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que nunca saiu do papel.
Durante um jantar na Casa Branca, FHC expressou solidariedade às vítimas do atentado e ao povo estadunidense, num gesto que foi amplamente reconhecido pela imprensa e pelo governo dos EUA. Clinton, visivelmente abalado, agradeceu a mensagem de apoio do líder brasileiro, ressaltando que “lutamos juntos contra o mal e a desumanidade”.
O atentado de Oklahoma City
O ataque ocorreu em 19 de abril de 1995, quando um caminhão-bomba explodiu em frente ao Edifício Federal Alfred P. Murrah, no centro de Oklahoma City, às 9h02 da manhã. A explosão matou 168 pessoas, incluindo 19 crianças que estavam em uma creche no local, e deixou mais de 680 feridos. O impacto destruiu cerca de um terço do prédio e danificou mais de 300 construções próximas.
O autor foi Timothy McVeigh, ex-combatente da Guerra do Golfo e simpatizante de milícias de extrema direita. Movido por ódio ao governo federal, McVeigh escolheu deliberadamente um edifício federal como alvo, em retaliação aos eventos de Ruby Ridge (1992) e Waco (1993) — confrontos fatais entre civis armados e agentes federais que alimentaram a narrativa de opressão estatal em círculos antigoverno.
McVeigh foi preso no mesmo dia por infração de trânsito e, posteriormente, ligado ao atentado. Foi condenado à morte e executado em 2001. Seu cúmplice, Terry Nichols, foi condenado à prisão perpétua.
Consequências políticas e legais
O atentado gerou comoção nacional e foi um divisor de águas na forma como os EUA lidam com o terrorismo interno. No plano legal, o episódio resultou na promulgação da Antiterrorism and Effective Death Penalty Act (AEDPA), sancionada em 1996.
A lei restringiu recursos judiciais de condenados à morte; ampliou os poderes federais para investigação e repressão ao terrorismo; facilitou a deportação de imigrantes suspeitos de envolvimento com terrorismo; e estabeleceu controles mais rígidos sobre explosivos e armas químicas.
Além disso, houve reforço na segurança de prédios federais e um aumento na vigilância do FBI sobre milícias, grupos supremacistas brancos e movimentos antigoverno.
Comparações com o 11 de Setembro
Embora o impacto do atentado de Oklahoma tenha sido profundo, foi o 11 de Setembro de 2001 que institucionalizou o aparato antiterrorista nos EUA em escala global.
A tragédia de Oklahoma, porém, preparou o terreno para mudanças estruturais na forma como o governo lidava com ameaças internas, funcionando como um ensaio trágico para a criação do Departamento de Segurança Interna (Homeland Security) e da controversa Lei Patriótica (Patriot Act), aprovadas anos depois.
Memória e legado
Em 2000, foi inaugurado o Oklahoma City National Memorial, em homenagem às vítimas. A data de 19 de abril tornou-se símbolo da luta contra o terrorismo doméstico. O ataque permanece como um alerta sobre os riscos da radicalização violenta e do extremismo ideológico dentro das próprias fronteiras.
Documentários sobre o atentado
Oklahoma City Bombing: American Terror (Netflix – 2025)
Lançado para marcar os 30 anos do atentado, o documentário dirigido por Greg Tillman usa imagens de arquivo, entrevistas com sobreviventes, agentes do FBI e recém-divulgados áudios de Timothy McVeigh, oferecendo uma narrativa cronológica do evento.
Terrorismo Americano: O Atentado de Oklahoma City (HBO – 2024)
Original da HBO e dirigido por Marc Levin, aprofunda o contexto sociopolítico por trás do ataque. Explora as raízes ideológicas de Timothy McVeigh, seu vínculo com os eventos de Waco e Ruby Ridge, e o impacto cultural do radicalismo antigovernamental nos EUA.
Atentado de Oklahoma City: Um dia na América (NatGeo/Disney+ – 2025)
Série documental em três episódios com narrativa imersiva, alterna cenas em tempo real do dia do atentado — explosão, resgate, manhunt e julgamento — e dá voz à população local, vítimas e autoridades, criando uma visão visceral dos acontecimentos .